Artigo Murilo Cabral Lacerda: Educação e Cidadania – A família e a escola na construção da cidadania
1.Introdução
A cidadania é uma condição social expressa na viabilização da participação em todas as esferas da vida em sociedade, cabendo à escola exercer o papel de uma importante engrenagem dentro da sociedade contemporânea, apesar de conviver com os limites e determinações da própria sociedade (Rivas, 2007).
A educação deve permitir que todo indivíduo se aproprie da cultura e do conhecimento produzido pela sociedade, considerando que ela é o principal “lócus” para apropriação desse conhecimento (VANILDA PAIVA, 1997).
Educação e sociedade se completam, pois, uma depende da outra para atingir seus objetivos, principalmente em relação ás tecnologias, a qual tem muito a ser desvendado pela educação e pela sociedade, cuja inserção no ensino poderá trazer consequências contínuas à autonomia do trabalho docente (KONDER, 1985).
A família e a escola ocupam papel fundamental que vai além da transmissão de conhecimento, é preciso que exerçam o papel de ajudar na construção de uma sociedade cidadã, procurando saber afirmar e negar a cidadania, considerando as adversidades sociais em função das contradições socioeconômicas e culturais presentes em nossa sociedade (ZIZEMER, 2006).
2. Referencial Teórico
Ao longo do descobrimento do pensamento histórico moderno, existiu uma grande ênfase adjudicando à educação a missão de realizar o que o homem deve ser. Busca-se neste tempo saber: como devia ser o homem? Saber se a sua essência é quem o determina? A base deste pensamento é produto da herança do idealismo antigo (essencialmente com Platão) e o cristianismo (S. tomas de Aquino). Estas tradições foram responsáveis pela distinção do “eu empírico” do homem e sua essência “real” (SUCHODOLSKI, 1979)
Na antiguidade e na idade média, os homens tinham a opção de escolher livremente três modos de vida (bios) as quais possibilitavam ser inserido na cidadania: A vida voltada para os prazeres do corpo; a vida dedicada aos assuntos da polis; a vida do filósofo dedicada à investigação e à contemplação das coisas eternas. O trabalho não era tido como suficientemente dignos para constituir um bios, um modo de vida autônomo e autenticamente humano. Havia desprezo pelas atividades que se referissem a prover a própria subsistência, à sobrevivência. O trabalho regular cerceava a liberdade e, para ser cidadão, era preciso viver somente na esfera política, a liberdade só era possível na esfera da polis (ARISTÓTELES, 1997).
Reportando-nos em diferentes períodos da historia da humanidade, cidadania traz a possibilidade de valorizarmos os diferentes saberes e fazeres do Ser Humano, além de entendermos um pouco mais sobre o conceito atual e sua importância para a educação. Da mesma forma, é possível a compreensão de que os conceitos não são imutáveis, mas são relativos a determinadas épocas, pois, o mundo está em constante mudança (ZIZEMER, 2006).
É através da educação que o indivíduo poderá tornar-se capaz de se conduzir na polis de forma independente, com participação crítica, exercitando a plena cidadania, tornando-se cidadão livre e autônomo, dotado de princípios de conduta de validade universal. Um indivíduo consciente da importância de valores como a alteridade, solidariedade, respeito, tolerância, equidade, justiça, amizade e humildade (RIVA, 2008).
A palavra cidadania no Brasil acaba sendo vinculada ao simples direito, não abrangendo a consciência ao voto e às garantias sociais. O cidadão, dessa forma, é aquele que possui o usufruto da educação, da saúde, da alimentação, e que, a cada dois anos vão às urnas para escolher quem lhe concederá tais direitos. Pouco se reflete na sociedade, de forma geral, sobre a natureza desses direitos, como são conquistados e sobre sua real importância para a efetividade da cidadania (SCHMITZ, 2012).
Na perspectiva humanista, Paulo Freire aponta educação como um objeto de estudo e de pesquisas de diversos campos do saber. Defendia a educação social, a necessidade do aluno se conhecer e conhecer os problemas sociais da sua realidade concreta. A educação, para ele, era muito mais que um instrumento de escolarização e profissionalização, era o meio pelo qual se deve estimular o povo a participar do seu processo de emersão na vida pública engajando-se no todo social (GADOTTI, 1996, p. 36).
De acordo com Silva (2015), citando Paulo Freire (2003a, p. 30-31): É por meio do pensar filosófico, que o ser humano se desprende do estado de “consciência transitiva ingênua”, superando-o por um estado de consciência crítica. Um desprender que ele procurou incansavelmente fomentar, visando à transformação da realidade social brasileira (FREIRE, 2003, SILVA, 2015)
Paulo Freire, sempre buscou a libertação do ser humano das amarras da opressão, definindo-o como sujeito, permitindo-o a realizar com sucesso a sua vocação ontológica de “ser mais”, de humanizar-se. Esta vocação para o humano só pode ser realizada plenamente no seio de uma educação verdadeiramente libertadora, crítica, efetivamente alfabetizadora e democrática (SILVA, 2015).
É preciso que as politicas públicas educacionais sejam mudadas. Normalmente quem ocupa os cargos mais importantes politicamente na educação nunca é um educador, mas um advogado ou economista, que certamente não tem a sensibilidade, percepção e visão de um educador. Com isso, a autonomia intelectual que a escola deveria garantir ao aluno não existe. O que se aplica na escola não se aplica na vida, o que se aprende na vida não serve para interpretar na escola. Está aí o grande fracasso. E isso piora a cada ano (GUILHERME, 2011, s/p.).
Ainda, de acordo com Guilherme (2011), a escola deveria se aproximar mais das famílias. É preciso que alguém ensine porque os pais precisam respeitar o professor, dar a devida importância para as tarefas escolares, ensinar os filhos a terem cuidado com o patrimônio das escolas, e sobre a importância dos livros. Se os pais não sabem, eles não vão saber por que fazer e como fazer. Muitas vezes o professor diz para os pais que o filho está tendo problemas de aprendizagem. Mas os pais não sabem o que fazer. Um responsabiliza o outro (GUILHERME, 2011)
Neste contexto, a única possibilidade de ajudar os meninos e meninas a reinventar o mundo, seria através do ensinamento da criticidade e a autonomia, pensando e ajudando-os a pensar certo. Mas, o que pode ser entendido como ser critico e autônomo? O que é pensar certo? Para Paulo Freire, o pensar certo é um pensamento revolucionário, critico e autônomo, que leva ao agir certo (SILVA, 2015).
De acordo com Ribeiro (2001), a educação, não constitui a cidadania. Ela dissemina os instrumentos básicos para o exercício da cidadania. Para que o cidadão possa atuar no sindicato, no partido político etc., é necessário que ele tenha acesso à formação educacional, ao mundo das letras e domínio do saber sistematizado. Em consequência disso a formação do cidadão passa necessariamente pela educação escolar (RIBEIRO, 2001).
A partir da compreensão sobre politicas publicas voltada para a essência das práxis educacional, a aprendizagem como consequência da atividade de ensinar, poderá melhorar sua didática, consistindo não apenas no conhecimento da estrutura e funcionamento dos processos reais de ensino-aprendizagem, isto é dos processos que já existem, mas também no estudo das possibilidades de estruturação e funcionamento de novas possibilidades de ensinar e aprender (PIMENTA, 2012).
Murilo Cabral Lacerda
Mestre em Contabilidade, Controladoria e Finanças Pública
Pós Graduado em Pericia e Auditória Contábil
Pós Graduado em Epistemologia Genética e Educação
Especialização em Matemática Financeira com o uso da HP 12 C
Pós Graduando em Docência do Ensino Superior