Don Aldo Gerna completa 50 anos de ordenação e celebra missa na catedral em São Mateus
O bispo-emérito da diocese de São Mateus, Dom Aldo Gerna, completou neste domingo (1º), 50 anos de ordenação episcopal, ou seja, 50 anos de bispo ordenado pela igreja católica. Na tarde deste domingo (1º), Dom Aldo celebrou a missa na Catedral de São Mateus, a missa especial foi transmitida pela internet. Dom Aldo atualmente é o bispo-emérito mais velho do Espírito Santo.
Bispo católico da ordem dos missionários combonianos, Aldo Gerna é nascido em Arigna, no município italiano de Ponte in Valtellina aos pés dos alpes suíços. Em 2019, numa entrevista que concedeu ao jornal ‘Tribuna do Cricaré‘, o bispo falou como sendo o principal acerto da igreja de São Mateus, a opção pelas comunidades eclesiais de base.
Sobre a Cúria Romana, o bispo elogiou o papa Francisco e disse ter esperança em mais mudanças com a ação de Francisco, inclusive na eleição do sucessor. “Os tempos estão amadurecendo e não é impossível que o próximo Papa seja da África. O Espírito de Deus não está de férias, e menos ainda aposentado”.
Um pouco da história de Dom Aldo
Aldo Gerna nasceu no dia 7 de maio de 1931 na vila de Arigna, município de Ponte inValtellina, Província de Sondrio, na Região da Lombardia, na Itália. Entrou no seminário em 1943 e de 1950 a 1956 cursou Filosofia e Teologia na Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma. Fez sua profissão religiosa na congregação dos Missionários Combonianos no dia 9 de setembro de 1950. Foi ordenado padre na Arquibasílica de São João de Latrão, em Roma, no dia 22 de dezembro de 1956.
Chegou ao Brasil em 27 de novembro de 1957, apresentando-se a serviço da então Diocese de Vitória no Espírito Santo em 9 de dezembro do mesmo ano, com o objetivo de trabalhar na Diocese de São Mateus, criada logo depois, no Norte do Espírito Santo. De Vitória viajou de ônibus para São Mateus, tendo passado no extinto Seminário dos Combonianos em Ibiraçu e de lá por Jaguaré, que à época tinha cerca de quatro casas, tomando conhecimento desde o início da precariedade da vida e pobreza da população e da região.
Na recém criada diocese de São Mateus, Aldo Gerna foi secretário e braço-direito do então bispo Dom José Dalvit por sete anos. Nesse período dom Aldo acompanhou o processo de ocupação e expansão da região norte capixaba, as lutas e dificuldades da população, a ausência de políticas públicas e as desigualdades sociais. Os primeiros cinco anos, junto com outros dois padres, viajou incansavelmente, quase sempre a cavalo, em ação missionária. Enfrentou, no trabalho, muitas dificuldades, desde doenças, como a malária, até questões perseguição política na defesa dos direitos fundamentais da população. Nesse período passou um ano de estudos em Roma, onde também acompanhara o então bispo dom José no revolucionário Concílio Vaticano II.
Em seu retorno à diocese de São Mateus intensificou sua presença junto às pequenas comunidades de fé e afirmava que considerava importante em sua missão o esforço por introduzir na diocese de São Mateus, com um toque forte de preocupação com a questão social, as diretrizes e deliberações do Concílio Vaticano II. Por motivos de saúde, dom José Dalvit renunciou ao cargo em 20 de junho de 1970 e em 24 de maio de 1971, o então papa Paulo VI nomeou Dom Aldo Gerna, aos 40 anos de idade, como segundo Bispo de São Mateus, recebendo a ordenação episcopal e tomando posse no dia 1 de agosto daquele mesmo ano, em solenidade presidida por Dom João Batista da Mota e Albuquerque. Seu lema, em Latim, é “Scio Cui Credidi”, que significa “sei em quem acreditei.”
Como bispo de São Mateus, Aldo procurou nortear seu trabalho na construção de uma nova mentalidade. Quis a igreja despojada do ritualismo, das cerimônias pomposas, e realizando sua opção preferencial pelos pobres, conforme o Sínodo de Puebla.
“…As primeiras coisas que colocamos na lista de mudanças foram as obras sociais, que absorviam energia e nos colocavam numa atitude de eternos dependentes dos poderes públicos. Precisávamos correr atrás de verbas para realizar tais trabalhos sociais e era aquela agonia, porque o dinheiro não chegava. Tínhamos também a consciência de que não deveria ser essa a nossa prioridade e essas obras entraram em crise. Não deveriam mais ser nossa responsabilidade, mas sim do estado que é responsável por elas. Nós deveríamos nos libertar dessas coisas e enveredarmos por outro caminho que a igreja não ficasse parecendo um grupo econômico de grandes empreendimentos. De modo que, quando assumi a diocese, sonhava com a superação dessa situação,” disse.
Dentre os trabalhos que absorviam trabalho dos padres da diocese estavam as atividades econômicas da igreja, tais como uma serraria, uma tipografia e uma fazenda de gado. Todos estes bens foram colocados à venda e o dinheiro revertido por dom Aldo em obras pastorais da diocese. No entanto, o bispo teve de enfrentar a opinião pública, pois até mesmo alguns cristãos católicos pregavam contra essa mudança, alegando que dom Aldo estaria “destruindo a obra do seu antecessor”.
Dentre os grandes feitos realizados pelo bispo, destacam-se a construção da Catedral de São Mateus, obra realizada com a venda do então prédio chamado de ‘Sagrada Família’ ao Governo do Estado, onde atualmente está alocado o 13º Batalhão de Polícia Militar e a construção do Mosteiro Beneditino da Virgem de Guadalupe e da igreja de São Daniel Comboni, em Guriri. Além disso, Dom Aldo dirigiu 06 paróquias, ordenou 35 padres e crismou mais de 78 mil cristãos na região norte e noroeste do Espírito Santo.
Deixou ao cargo em 03 de outubro de 2007 após ter completado 75 anos onde a aposentadoria é compulsória, sendo sucedido por Dom Zanoni Demettino Castro, atual arcebispo de Feira de Santana (BA). (com informações: A Parresia)